
Ignoro-me.
Data 09/04/2009 20:16:45 | Tópico: Poemas
| Ignoro quem dorme ali ao lado paredes meias comigo, no sonho. Noite dentro. Penso. E perco-me de mim neste enredo. E encontro-me em mim. E revejo o missal do meu passado.
Luzes. As luzes agora apagadas. As armas desengatilhadas. Que sossego e que paz! Os jardins…. Os jardins dos sonhos despedaçados onde se debruçam guitarras do fado sem cordas nem carrilhões, partidas.
O espectador, um homem… Um homem sisudo, parado no tempo vestido de negro, ancorado neste Cais sem Cais de abrigo. Em redor desse homem, tudo negro. Nada já é colorido. Nada já é iluminado.
Neste homem, a boca de raiva arreganhada ri irónica do sonho que teve. Sonho que não realizou. O cabelo branco, revoltado, sangra inquietações ainda por viver. Que as vividas escoaram o peito de tanto sangue verter.
Neste homem, cúpulas erguidas de igrejas de fé perdida, caíram de sono, cansadas de não convencer. Chagas, mil chagas abertas, lâmpadas acesas, outras tantas mil fundidas… Vida apagada… palavras por dizer.
Inquietações. Ossos, veias, artérias… Para quê este sangue todo (tanto sangue derramado!) nestas vidas humanas que amanhã ou depois acabam por morrer?!
Perturbam-me estas galerias da vida!
do Autor in "O Livro das Inquietações"
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