
O Quarto!...
Data 30/01/2009 09:12:41 | Tópico: Poemas -> Sombrios
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Assim será sempre!... Sempre o mesmo quarto frio e solitário! A mesma humidade escura Incrustada na mesma gélida parede branca Sempre e sempre os sussurros; Vozes feitas de silêncio Que nada dizem Contando a história de ninguém… O mesmo choro carregado de solidão Preso nas paredes já com musgo… Também existe a estante de madeira podre; Livros amarelos e já gastos pelo tempo que morreu, Simetricamente arrumados da mesma maneira de sempre! (Nunca ninguém se deu ao trabalho de os ler E de os descobrir em muitas versões…) A estante que acumula o pó dos anos nus. Ao lado a mesma televisão velha Com a mesma imagem feita de serenidade negra. (A televisão faz-se branca do ódio dos anos!) Majestosamente erguido na parede O monstruoso guarda-fatos Imperialmente alçado em jeito de gigante Adamastor É o rei de tudo onde afinal não há nada!
Ao fundo uma porta fechada (Como sempre esteve ao correr dos anos!) Com a sua típica rispidez de madeira crua... E que em segredos esconde este mundo!...
De rodas presas no soalho A enfadonha cadeira com cheiro a mofo. (Dizem que em cima dela repousa o tempo!) Na secretária ao pé da cadeira O mesmo caderno de capa preta entreaberto Nele leem-se algumas palavras Que o tempo com pena não quis consumir... (Parece que lá vivem memórias de outros tempos!) As páginas vão dançando enquanto o vento as lê!... Numa ordem aleatória de uma maneira qualquer, Completamente desordenada e sem sentido! A janela aberta vai deixando entrar o ar que sufoca! No alto da secretária, lá bem em cima; Há uma estranha moldura; Com as fotografias de umas pessoas quais queres… (E talvez algumas lembranças!) Lá bem em baixo, Ao pé de caixote do lixo com cinzas em decomposição; O cotão deambula pelo chão gasto. (Que já tão bem conhece!) Depois no meio da parede, Opostamente ao guarda-fatos Há uma grande cama de casal Mas pequena na humildade que transborda A cama está encolhida a um canto (Como se tivesse vergonha do que veste!) Aqueles lençóis cheios de sujidade arranhada Parecendo cochichar com a mesma mancha de sangue seco Que vai apodrecendo com o tempo… (Parece que alguém morreu aqui um dia!)
Assim se sentem os sonhos Entre uma porta trancada E o castigar do vento numa janela aberta… (Alguém os deixou um dia perdidos!) Neste quarto vazio e sem nada! O quarto de ninguém!... Sempre foi assim... Este triste quarto onde um dia vivi; E onde um dia me morri... Assim será sempre!...
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