
UM HOMEM APENAS
Data 28/01/2009 18:05:40 | Tópico: Crónicas
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Deitado, na sua própria imundice, olhos perdidos, a tudo e a todos, num comportamento totalmente surreal, enlouquecido em vida, pela indiferença e pelo ostracismo, votado pelos outros, resolveu escolher a densa rua, como última provocação, a quem, por ele, se veja obrigado a passar, desviando, o até então, enérgico passo.
Seu cabelo desgrenhado e sem ver água, faz já muito tempo, deixa um cheiro nauseabundo, por onde quer que vá, e, as roupas, são pedaços de pano, que, um dia, também tiveram sua cor e corte, bem desenhado.
Enfrenta o frio, como ninguém, pondo jornais, dentro da vestimenta. E, se a pouca sorte, lhe sorrir, traz, a cobri-lo, uma velha manta de retalhos, aquecendo-lhe a figura esquálida.
Pela manhã, depois de um resto de comida (sobras da noite passada), procura com entusiasmo, arrastando o passo, um espaço, onde bata o sol, com vontade, e, aí, se senta, num lugar sem nome.
Como de costume, nestas alturas, retira gazes e plásticos, amarrados por uma corda macilenta, e, ao calor do sol, deixa expostas, as tremendas chagas, em carne viva, que a má nutrição e falta de cuidados médicos, tomaram de invasão, seu corpo frágil…
Seu nome, há muito esqueceu; família não tem nem se um dia foi casado e teve filhos. Apenas se recorda, de passar, todas as tardes, pelo cemitério, onde descansam seus pais, que não esquece. E, junto às árvores, um mesmo pedido: que seus pais, o reconheçam, quando ele a eles se juntar… um dia… um dia… solta-se a lágrima.
Jorge Humberto 27/01/09
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