
Poema XX
Data 11/01/2009 01:02:45 | Tópico: Poemas -> Tristeza
| "Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever por exemplo: 'A noite está estrelada e tirintam azuis, os astros lá longe'. O vento da noite gira e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a amei e por vezes ela também me amou. Em noites como esta tive-a em meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho, sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Importa lá que o meu amor não pudese guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe aguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro, será de outro, como antes de meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços, a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo."
Foi tirado de um pequeno livro com 32 páginas intitulado “Veinte poemas de amor y una canción desesperada” onde são reunidos alguns poemas de Pablo Neruda.
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