
Folhas Caídas
Data 23/04/2007 21:57:19 | Tópico: Poemas
| Folhas que se embalam no vento Em velhos ramos pregados como numa cruz Enquanto esperam adormecidas o Outono, Caem desamparadas no chão molhado, Findam a vida para alimentar o passado, Despertam a tristeza que dormia o seu sono Tapadas pela chuva num último raio de luz, Para dar vida ao futuro a qualquer momento.
Choram os céus lágrimas de saudade Com gritos de trovões que calam no escuro, O debandar dos pássaros para o Sul Que adivinha mais um Inverno rigoroso. Sorri o Sol outrora poderoso, Por entre nuvens que acinzentam o azul Num quadro belo, cruel, mas tão puro… Imagem que nos conforta a eternidade.
Orquestra do tempo que toca afinada Em cordas de harpas pintadas a ouro, Cantadas por vozes ímpares de Sereias, Serenatas indignas de nós mortais, Espectáculos divinos, celestiais Impregnados de sentimentos que semeias. Tu! Guardião de inigualável tesouro, Protector de tudo e de nada.
Eis que passa o frio do Inverno A vida toda em forma de sons da natureza Que majestosa se eleva no ar Como os fumos poluentes que saboreamos, Memórias de que não nos lembramos, Baleias que dominavam o Mar… Essas criaturas e rara beleza, De estúpido sofrimento eterno.
Rompemos os laços umbilicais, Queimámos a vida que nos dava vida, Preservámos o medo que a noite acordava, Tivemos filhos para não sofrermos a sós. Custa muito a crer, mas sim… fomos nós Egoístas porque só a fome não chegava Hipócritas numa existência ressacada Capazes de comer os nossos restos mortais.
Inebriamo-nos no sangue que corre nas veias, Qual néctar servido em festivas orgias, Não lemos na história iguais erros ancestrais Guilhotinados pela sabedoria e evolução, Pelo gosto de viver e sentir emoção. Conclui-se que somos piores que Chacais Que caçam a prazer todos os dias… Somos aranhas presas nas próprias teias.
Cabeças que rolam na dor do arrependimento, A estrada rui sempre que damos um passo, Más lendas de um futuro que nos esquece Ervas daninhas do nosso próprio jardim, Autores de um princípio que não quer fim, Filhos do ódio num mundo que padece, Estrelas num firmamento oculto no espaço… Folhas que se embalam no vento.
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