
ESCREVO A CÉU ABERTO
Data 08/11/2008 16:55:04 | Tópico: Poemas -> Sociais
|
Persiste incansavelmente e sem dar trégua alguma, o frio lá fora. Minhas palavras, amigas atentas, de sempre, acompanham a peleja, reflectindo antes de se posicionarem.
Sangram meus dedos, por fazer de minha poesia, um grito, que sei sufocar, na boca do pobre, já sem forças para contestar uma vida, em tudo, mais do que ultrajante.
Algumas crianças, curiosas, ainda trazem no branco do olho, a inocência e a esp’rança, de dias diferentes, enquanto vão fungando na roupa o muco, ensurdecendo-me sobremaneira.
Indiferente às pessoas, que passam, nas ruas mais acima, o esgoto a céu aberto, continua a correr; indigentes pedem privacidade, e, por instantes, paro de escrever, pra não ofender.
De volta à minha escrita, sem nunca ser incomodado, com um respeito, que me comove, a quem julga destas pessoas má fé, vou acompanhando o vai e vem, destas gentes, nunca errando o seu canto.
Hoje resolvi escrever debaixo da ponte, cidadela esquecida, tal o seu asco, a quem não pode deixar de observar, a vil desgraça, que por ali abunda, e, fazer, de meu poema, um relato humanitário.
Já acostumado ao cheiro nauseabundo, sou parte integrante do povo “estranho”, sobrevivendo no subsolo, absorvendo seus costumes, escrevendo pela nesga da luz do dia, a minha humilde entrega –
o meu ser poeta, acima de tudo.
Jorge Humberto 07/11/08
|
|