
A GRANDE PEÇA
Data 30/10/2008 22:28:59 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Como atores, disciplinados, vivemos o “script” da vida, que nos escreveram; das platéias, que nos assistem, aguardamos ansiosos seus aplausos e seguimos as tramas dos dramas e comédias de cada ato, com o rigor que nos prescreveram; Insensíveis escritores, que nos negam o improviso; engessados, somos personagens falsos.
Vivemos a satisfazer esse público, que não nos veneram como atores e nos abominam como homens; nos consomem com suas falsas regras de pudor desavergonhado, que nos impõem , para sermos consentidos como parte dessa farsa e nos dominam com a uma criança, se desobediente, que o castigo o espera, se apanhado.
Nos castramos de nossas vontades, desejos, sentimentos não expostos, contidos, que ainda nos sufocam, engasgados pela desesperança de nossos personagens , ante uma vida repleta de desafios, perigos, decepções constantes, diários, repetidos cujo enredo não previu; no palco estáticos, mudos , sem recompensa ou homenagens
Pois ,melhor apartados dessa divina comédia, que a tortura de nos anularmos e tolerarmos a presença de outrem, que nós não somos, e, como expectador, assistirmos a peça, cujo final é imprevisível, pois não se sabe quem irá finar-se primeiro, lutarmos contra essa força que nos controlará uma vida inteira, se consentirmos.
Há! Dirá, com certeza: é um fraco, que se deixa abater, se dominar, se arrefecer; que se deixa regrar por essa insidiosa agremiação, malfadada conspiração De homens, ditos “de bem”, que nas sombras conspiram, matam, se pervertem e nos faz crer, Ser essa a melhor forma de vivermos, nessa desgraçada sociedade, nesse mundo cão!
E o que nos escreveram sobre o amor? Meu personagem ama e sofre... suplício! Creio que há algo errado; como pode tal sentimento, de tamanha nobreza causar-nos dor? não encontrei respostas. Vi foi personagens desgraçados, corroídos pela dor e pelo vício, pelo ciúme, pelo desespero; alguns até me pareceram felizes, bom desempenho de um ator?
Entendo agora! o “Autor” criou somente a dor e, por piedade, o amor como consolo e alívio. Se o enredo é a dor e o amor o bálsamo atenuante, então a vida é uma constante alternância, uma colcha de retalhos, onde cada momento está retratado, resumo de todo um convívio entre dois personagens nessa grande peça, onde os nossos sentimentos não têm importância
E sobre a generosidade? como o amor, a dor e o ódio, temos uma dose de generosidade. Mas, além dos sentimentos de dignidade, brio e nobreza, a adversidade domina nossas ações. Para cada ato generoso, temos uma atitude de arrogância, soberba, intolerância e maldade. Mas não somos inteiramente maus, ou bons, há uma dose de amor em nossos corações.
E sobre o último ato? O “Grande Autor” reservou para si o final de cada personagem, não nos é dado o direito de sabê-lo, a surpresa é a grande emoção, a grande ansiedade. O que angustia não é a saída de cena, mas saber se, ao cair do pano, atuaremos com coragem. Permita “Ele” que nessa hora a platéia seja generosa, demonstre carinho e bondade.
|
|