
SIM FUI CRIANÇA
Data 22/10/2008 15:52:39 | Tópico: Poemas -> Saudade
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Vi montes e escarpas; corri feliz sem alcançar cansaço, por mínimo que fosse, subindo e descendo árvores, para espreitar os ninhos mais recentes.
Minha cadelinha, que sempre me acompanhou, até a terem raptado, ladrava lá em baixo, desejosa de mais aventura, embrenhando-se comigo, entre arbustos e caniçais.
Pegando na minha faca, uma a uma, separava as canas mais verdes, e, unindo-as, com cordame, uma cabana tomava forma, e ali passávamos os dias, dormindo sestas, inventando jogos.
Minha predilecção era correr sem parar, trazendo atrás de mim, a cadelinha, de orelhas arrebitadas e língua de fora. Então resolvia parar e levá-la para a cabana, onde ela podia beber água fresquinha.
Que felicidade em seus olhinhos; deitava e dormia. E eu, sem ruído, voltava a sair, procurando algo, que julgava ter visto, sendo merecedora de minha atenção, mais atenta, e, não descansava, até me certificar.
Já a tarde descendo, latidos escutava, atrás de mim: minha cadelinha vinha ao meu encontro, depois de uma bela sesta. E a festa era enorme, atirando-me ao chão, lambendo minha face suada, e, agora, um pouco cansada.
Ao meu sinal, seguíamos para o nosso poiso sagrado, deixando tudo arrumado, ajeitando as camas, e, algumas canas soltas: tudo tinha de ficar pronto, para nos receber, no dia seguinte. Só depois regressávamos a casa.
Ah, como fui feliz, nesses tempos, ainda sem prédios e raras fábricas, onde a descoberta, era a novidade, do dia-a-dia, e, a natureza, o barco que conduzia, por esses mundos fora, a minha ânsia de mais e mais, até à exaustão.
Jorge Humberto 21/10/08
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