
E ONTEM EU QUIS UM POEMA QUE NÃO PUDE CONCEBER
Data 11/10/2008 11:39:31 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
| E ONTEM EU QUIS UM POEMA QUE NÃO PUDE CONCEBER (ODE TOSCA A IBERÊ CAMARGO)
Ontem a paisagem Do aroma da noite Fecundou em mim Um tênue fluxo dum poema.
Este fluxo carregava nas casamatas do ventre A estrada para uma humilde hossana A Iberê Camargo: O mestre máximo do pincel Que reinterpreta visceralmente A visual realidade Que, á primeira análise, Se mostra vivente, a inconteste claridade incólume do sempre!
Ah, ontem á noite, O meu ser de remendo Quis enaltecê-lo, Reverenciar-lhe o apurado e peculiar olhar De transcendente acuidade, Lançado sobre o aparente cenário em equilíbrio: Para o geral ver, Cegado pela síndrome de Narciso, Completamente equacionado Pela Matemática do humano tempo conciso.
Ah, como idolatro este olhar Congênere da Ametista Pois dirime a embriaguez: Embriaguez que a insidiosa superfície Do mundo externo impõe á vista De um modo que bloqueia Tão sutil e plenamente O livre perceber que brota das mentes hominídeas, Porque estas ancoram, Embora inconscientemente, Seu alado veleiro No indestrutível porto da sageza Do ecumênico solar desejo!
Então ele fita claramente O incessante novelo de conflitos Progredindo-se por debaixo da derme Do onipresente embuste eloqüente, corrosivo! E depois que se alimenta deste drama, Um universo em contínuo colapso, Vivenda em chamas, Devolve-o íntegro, desprovido de sofismas: Rebento do incorruptível imaginário antropofágico! Sim, a AMETISTA EXPRESSIONISTA Faz com que o rosto da verdadeira humana estética Seja revelado: Sem o adorno da airosa flor do eufemismo E sem a indulgência que emana Da mão estendida pela cênica sensatez residida No alegre tremular da bandeira da trégua Entusiasticamente anunciada, bramida!
Ah, entretanto, O poder de captação de Iberê É muito mais ancho: É capaz de nos expor Toda a densidade da latitude Contida na pungência da tristeza, Escondida na álacre corpulência Do rosto de uma pessoa-oceano.
Não, eu não pude compor o tão sonhado poema: Melancolicamente, Naufraguei-me no mar da cara empresa.
Ah, tenho raiva, tenho pena de não ter podido seguir a sua feérica estrela: Não erigi versos brancos Nem versos que sorvessem Da fonte onde deitam A rima pobre e a opulenta.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
|
|