
NAUFRÁGIO DOS MEUS BARCOS DE OURO(REPUBLICAÇÃO)
Data 02/10/2008 11:54:58 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| NAUFRÁGIO DOS MEUS BARCOS DE OURO
Nos últimos tempos, Enquanto durmo Sob os fleumáticos embalos da brisa da noite, Minha mente erige sobre o chão da dimensão dos sonhos O contemplar de uma lata piscina: Imersos nela repousam Airosos barcos em distorção: Airosos porque concitam os portais do estético sortilégio A inebriar as vistas daqueles que os fitam, Derramando sobre eles o dilúvio da paixão.
Sim, tais embarcações também me evocam e me eivam, Me asfixiando em seu oceânico espiral de fascinação: Por isso resolvo ir ao encontro De seus corpos em inanimação. No entanto, ao chegar lá, Recebo um entorpecente golpe de revelação: Deslindo que aqueles barcos de Hércules, Que navegavam pelo mar da minha tenra juventude, Tão auríferos que chegavam a emanar o brilho da perfeição, São, na verdade, jangadas quebradiças De ouropel, de latão!
Agora, para não ser lacrado no mausoléu da misantropia, Sento sobre o assento do sábio divã da mundana bíblia: Trilho as alamedas de Ulisses, Orlando, O Processo, As Meninas; Dois Irmãos, O Jogador, Vidas Secas, Senhora, Brás Cubas, Rei Lear; Bicicleta Azul, Zero, O Paciente Inglês, 1984, Clara dos Anjos E O Caçador de Pipas!
Eles me confinam no mais doce exílio: O arquipélago dos pensamentos e das letras. Eles me vestem com a insólita indumentária estática Do mórbido comedor de celulósicas tapeçarias cosmopolitas: Fazendo-me um hábil trânsfuga de um dos exércitos Da pátria fixa. Ah, efemeramente, eles me resgatam das profundezas do mar: Mar onde reina a opacidade da fotossíntese da arte de sonhar; Mar onde olho imoto O BÚFULO DA NOITE galopar Celeremente na tramontana de meu corpo para sua fome saciar; Mar onde a refração dos MEUS BARCOS DE OURO É, para os copiosos jardins de esperança que cultivo, Meu perpétuo crepuscular ferino! JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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