
Raiva muda
Data 23/09/2008 23:42:48 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| Não entendo nada da realidade nem da metafísica. A minha ideia de mim mesmo é torpe. Como torpe são os passos num caminho que não vislumbro. Quero dos sentidos a humana sensação de estar vivo, De olhar cada homem meu irmão e sentir-me inteiro. Vêem como nada conheço da realidade? Que palpável emoção posso, neste nada que me sublima? Nos sonhos escritos na areia da memória que o vento apagou? Ah porra, não me dêem lições de anatomia transcendental. Não me vendam ilusões que a única ilusão é a morte! Querer mais do que ao humano destino é destinado? Não, não me tragam vis lições de moral, Vos que tão vis foram e mais vis vivem abaixo dos céus. Quero a sentir a humana paixão. A ilusão de a merecer e nela me consumir até ao último fôlego de vida! Perder-me por veredas em planícies frias e disformes, Carregadas de Rosmaninho e Madresilvas e Alecrim silvestre. Quero aquele riso quente num fim de tarde inverno, Misturado com quentes cheiros e ensurdecedores silêncios. Quero as páginas do velho livro onde renasço e pereço! Ah, a mortalha daquele corpo onde humildemente me fundo. Não, não me tragam ensinamentos das vossas fúteis vaidades. Intolerância, na vossa pseudo castidade parida e esconjurada. Serei morto ou vivo mas em minha carne reconstruído, Em minha alma abençoado e amarei até ao infinito. Não, nada entendo da realidade nem da metafísica, Que a única realidade é o leito desse peito que anseio. E a metafísica, o sono perene em que me deleito.
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