
Instante que sou
Data 16/09/2008 23:54:46 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Desde de sempre eu existi, Remoto projecto na mente d’ Algo. Há uma eternidade eu já era. Nascem as pedras e os montes, As estrelas no Firmamento. Das montanhas nascem os rios Em murmúrios de advento, -E eu, mero projecto, distante…
Dos mares brota a vida, E dos céus a ave que canta. O ronco do leão rasga a floresta E enquanto da esperteza o símio se ufana, Um outro, dele, no intelecto se adianta. Entretanto existe já o Tempo. Tempo menino, criança, Tempo que não anda – parado no Tempo Mas o tempo avança, ainda que sem pressa, Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios -E eu, vago projecto ainda…
O homem não chegou ainda a homem. Das planuras de Cro-Magnon Vislumbra ao longe “Pequim”. Atarracado no porte e vesgo na inteligência Prossegue o seu caminho, determinado, Puxado por um tempo sem pressa Feito de eternidades milenares. A marca do futuro nas entranhas, No sangue o gene da Evolução. Ainda que por lapidar Tomou já o comboio da Razão, Que em marcha lenta Percorre os caminhos da pré-História. Vai só nas veredas do Futuro, Tudo lhe ficando para traz - Que ele é já Homem -E eu, vago projecto remoto ainda…
Vencida a longa jornada que Da pré-História traz o nome, Ei-lo que faz a curva da História A partir de onde, Em doses mais e mais suculentas, Lhe são servidas rações de civilização, Que sorve entre frugal e ébrio. São ainda as rectas milenares Cruzadas por egípcios, gregos, persas.
Algures no Oriente Médio, Surge nesta hora um Homem. Os seus valores não são os dos outros homens, A sua conduta intriga os do seu tempo. Morrendo e vencendo a morte, Subverte a ordem natural das coisas. O seu elixir é o do amor E o seu projecto é de Esperança. -E eu, então, projecto ainda distante…
Ganhando velocidade, Segue a sua rota o comboio da História Galgando indómito as plagas do Tempo. Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos Os domínios se arrebanhando, Em pleno e sucessivo derrubar. A velocidade é agora vertigem, Porque de vertigem passou a ser o Tempo -E eu ainda, não mais que projecto…
Entretanto, subitamente, eu sou! De projecto que fui por toda uma eternidade, Do sonho que ainda era ontem, Neste momento, eu sou... existo ! Momento único e inestimável Este cruzar da Vida Com a estrada desmedida do Tempo. -Luz que mal brilha na noite da Eternidade,… Até quando este instante ?
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