
SEPTUAGÉSIMO PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
Data 07/09/2008 15:49:22 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
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Alguidar na cabeça, tendo a sogra para aceitar melhor o peso, inda a manhã não tinha nascido, já tu caminhavas, inverno adentro, levando a roupa da família, para lavar, nas águas límpidas, que jorravam para os tanques, agora extintos.
Mas teu sangue ainda quente, tua juventude cobiçada, todo e qualquer frio, punha para trás das costas e tu cantavas, no amanhecer de teus dias, que, diga-se, não eram fáceis. E, enquanto as mãos entravam, nas águas gélidas, brincavas e rias, com tuas companheiras, que te faziam essa jovem feliz, apesar do imenso trabalho.
Roupa lavada e torcida, já o sol se via ao longe, ainda que ténue e de novo alguidar e sogra na cabeça, era hora de regressar a casa e a brincadeira não parava, no caminho íngreme, suportada a ultrapassar, findo o primeiro labor, ainda nem o dia havia nascido.
E minha mãe, chegada a casa, mãos friorentas, estendia as roupas e das irmãs, já se punha a cuidar, acendendo a lareira, para o banho da manhã, até deixar tudo pronto e rumar à fábrica, onde deixava seu suor e entrega permanente, como pessoa de bem, que seu pai, sempre lhe ensinara.
Bem cedo, má doença nos pulmões, derivada da ingestão, dos pós de vidro, impediu-a de trabalhar, mas ainda recordo, como me escondia nos arbustos, na sua saída da fábrica, para a assustar e receber o seu beijo e carinho, tão desejado, depois de mais um dia sem a sua presença.
Hoje é dia do teu septuagésimo primeiro aniversário. Continuas a mesma guerreira e nada te impede de trabalhar e de ter tua casa sempre asseada e pronta a receber, quem nos queira visitar. Para sempre te hei-de amar, minha mãe querida, que cuidou de mim, me ensinou e me amou sem restrições.
Sê feliz, mãe adorada, que eu serei por ti!
Jorge Humberto 08/09/08
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