
Fala-me de ti!...
Data 03/04/2007 21:00:00 | Tópico: Poemas -> Amor
| Refulgem projectadas no azeviche enxaguado do pó de todas as estradas, flores ainda por nascer. Migrantes, de um tempo resguardado, no silêncio conchavado, no gérmen ou na semente. Em que, reconhecida, só a voz!
A voz das coisas, esta que me sopra ao ouvido e me faz olhar mais alto e mais profundo. A voz, a respirar no rosto desconhecido onde nascem os teus olhos. Irisadas gelatinas. Nas tuas pupilas vitrais de estrelas debruçadas e nas sobrancelhas erectas a amover trevas ancestrais.
Reconhecida, só a voz.... da palavra destilada, conluiada. Tanto pó, tanto caminho ...
Fala-me de ti. Deste tempo em que foste apenas cisco, seixos, búzios, areais ou correntes... Deste tempo em que foste animal misterioso Jaguar felino a adejar na flor marítima do mar ...
Fala-me de novo. Tenho todo o tempo do mundo para te escutar. Fala-me dos seios lácteos e salinos onde descansaste o teu corpo a navegar. Que os quero amar. Que alimentado te trouxeram de novo a mim. Fala-me desse Sol ávido e quente, desse Sol alaranjado, esse que trazes colado à tua pele, profuso. Fala-me desse tempo difuso, em que sonhado, permaneceste a meu lado, na boca verde do beijo e no relampejar do desejo...
Anda, senta-te aqui sereno a meu lado, neste alpendre enfeitado, no beiral das espécies recrudescidas. Oiçamos agora os seus chilreios. Maneios de novas vidas... Fala-me de ti!...
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