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Data 30/08/2008 13:27:02 | Tópico: Poemas
| E há o sol e as montanhas levantando-me questões E há o senhor da loja dizendo-me: hoje não! E há a palavra destruida contra o peito aquando experimento o salto mortal E há a fotocopiadora eternamente parada no canto sujo da cabeça
Só pelas mulheres escancaradas nas pinturas de Monet eu me tornaria pecador profissional Só pela mala do carteiro que leva recados divinos eu serei acrobata esta noite E porque desejar é o menos Eu tenho o desejo de ser alguém: Um homem que tem ossos para plantar pelos beirais Uma Maria que traz em seu ventre o documento assinado pela salvação O carpinteiro que na sua paciência faz crescer uma barata
E há o telefone que me ausculta o peito como o lavrador avalia o bom melão E há a moto-serra em jejum que adormece a meu lado E há um dedo que diz: os museus não são para dormir puto! E ainda o terrível medo a engarrafar todos os desejos não-classificados Sobejamente estrangulados por mãos delicadas
Não sei se no céu continua a haver divisas Não se adivinha se o silêncio é coisa que se pense Ou que pese no corpo Ou se o grito de dor é a reprodução de um disco riscado
Entre a vida e a morte um rapaz bonito não tem tempo de se pentear Os amigos chegam atrasados E eu lembro-me Que morri antes de mim Os pássaros eram vagas ideias As nuvens eram velhas adoecidas As casas tinham asas Que eu bem as vi voar neste meu quarto planetário Com vista para os frickes no jardim
O amor é um problema da 4ª classe Que os doutores não sabem resolver Eu na minha solidão japonesa cá vou aprendendo
Raul Seixas ensinou-me a não ter medo de pensar A gostar de palavras cruzadas na sopa Disse-me: não tenhas medo das vacas de fogo O mundo ainda o há-de vir a ser Carlos Drummond de Andrade disse-me que o amor não se importa com as varizes Fernando Pessoa no dia em que inventaram o amor deitou-se nas palhinhas e foi verificar o sal do mar Rimbaud deu a desculpa que o universo foi gerado por urtigas
Depois deste cansaço apetece-me mudar de canal Destronar todos os imperadores com um poema dos meus O mais fraco que seja
Posso ir à Grécia num pensamento-a-jacto E desafiar a gravidade lógica Posso ser pai de uma partícula de vento Ou filho de um filho que é neto Mas nunca o Sol me há-de derreter E não uso capa de super-homem Apesar de ele me ter dito que funciona tal qual uma sereia Que desagua no quarto por volta das três
Tenho lençóis por mudar Uma fronha para beijar Mas não há quem me vença nesta derrota Tenho astrolábios que ganhei numa rifa E um cristo num porta-chaves Por isso deixai-me ser bengaleiro por momentos! A Raponzel falar-me-á da sua solidão
Entre o fogo e a água não sinto diferenças Bebo fogo Queimo os lábios quando bebo Vou falar de um facto que apesar de ser morte não é espanto Um homem inventou outro homem Alguém que amava com tronco e membros Retocou-lhe todas as partes do corpo com mil mulheres a beijá-lo Mas o novo homem mal se ergueu tombou de fresco Tal como Madre Teresa de Calcutá que se ofereceu toda aos vivos Que lhe perderam respeito e morreram-lhe nos braços
Depois das baleias estarão os poetas em risco de extinção E os banqueiros aplaudindo nas suas poltronas veludas Os arqueólogos chuchando ossos do artista Que descobriu que entre a carne e o osso havia caviar em forma de verso Os matemáticos urinando contra as paredes da universidade Que é a melhor forma de equacionar um grito ao quadrado
E há os meus livros sendo levados à força para a lavandaria E há a andorinha que aceitou posar para um retrato E há a ignorância e a estupidez na mesma moldura E há certas revelações que não nos deixam perguntar porquê
Admito que sou inútil quando beijo por vinte paus Que o amor é total quando vem sem facturação E enquanto não pisarmos um teatro não nos sabemos ver ao espelho
Tenho um piano encostado a uma parede em que nele faço tudo Até mesmo sexo e a cesta consequente Mas nunca me esqueço de primeiro apagar o cigarro
Sei que em cada boulevard se formam partidos com sabor a limão Há um suicídio sempre que o semáforo muda para verde E o senhor do talho sorri mais uma vez Que é a quinta vez nestes sessenta segundos E ainda há quem o defenda dizendo que é defeito congénito
Se eu me despedir sem um bye bye quem me recordará? E se à porta da biblioteca me revistarem e acharem este texto? Que eu lhe chamo de poema xaropado?! E se os meus amigos tiverem bola neste dia em que me vou? Se ao menos inventassem uma versão latina desta dor que é maioral Dançariamos Trocariamos pestanas e Sorriamos como o militar que está a chegar
Ó homem que finges ser homem Quem foi o charlatão que falsificou teu corpo Tua carne Teu pensamento?! Quem foi o Aladino que não deu mais que uma hipótese para pensarmos no que queremos ser?!
Arre todo este cortejo de idealistas profanos! Quero sentar-me na mesa dos futuristas! Embedar-me de seivas orientais e purpurinas acesas Trincar amendoins numa pose filosófica E ser criticado por não ter pose Quero lá saber se depois disto não me renovarem o alvará! Estou-me marimbando para aqueles que se reunem em mesa redonda!
Sabem uma coisa? Alguém me chama Numa voz doce como limão Num grito de quem não abre a boca Num pretérito-imperfeito-mais-que-perfeito
Vou contar até três Se acaso ficar calado Não me convidem para nada Não me enviem mais pombas mensageiras É porque aceitei que por detrás daquela colina E da outra que se segue Há um novo estilo de procriar: com amor-de-fogo-e-rosas-à-espera-de-um-novo-dia.
com as sugestões de títulos - este poema vai assim - continue...
Sou um sushi na mesa de um carnívoro com vontade de mudar de condição, Voando sobre um ninho de abutres Tenho um intruso no canto do dedo que me quilha o juízo, Tenho muitas dúvidas sobre as certezas...
palavras abortadas?! Em voo, todos os abutres são magnos palavras abortadas?! em queda livre os abutres são magnos
Há um Deus Profano Dentro de Mim ...
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