O Menino

Data 30/08/2008 02:11:07 | Tópico: Poemas

Na minha rua tinha um menino que vivia na janela rindo.
Ria quando o carro passava e ria quando chovia, e se a bicicleta atolava também ele ria.
Era cuidado pela mãe, uma mulher pequena e aguerrida que não media esforços para vê-lo feliz já que ambos foram abandonados pelo chefe da casa, assim que este soube da doença do filho. Para amenizar sua dor dizia ele, resolveu morar no interior do estado, de onde poderia visitá-los vez ou outra, o que nunca fez...
Apesar de tudo, a vida deles era preenchida por uma constante disposição de viver, recurso eles tinham algum, pois a senhora era filha de militar e recebia a pensão do pai já falecido, assim viviam sem grandes apertos.
A vizinhança toda se acostumou a ver o menino sorridente que tomava sol na cadeira de rodas, e conversava com os passarinhos, os cachorros, e gostava das crianças, embora uma boa parte do dia ficasse na janela se comunicando através do riso que dava para o tintureiro, o açougueiro, e a moça do banco, especialmente.
Quem passava para o trabalho, olhava aquele menino ali com um ar fresco de alegria e mesmo quem se mudava, uma hora retrocedia para dar um aceno.
Por quinze anos aquela cena se repetia na rua, até que numa tarde linda de primavera aquela criança amanheceu morta, e sua mãe triste, porém consolada, velou e enterrou o seu raio de luz acompanhada por um número grande de pessoas que fizeram questão de comparecer ao cemitério, e prestar a última homenagem ao vizinho sorridente que marcara de certa forma, os seus dias corridos entre o trabalho e a casa.
Ao contrário do que se pensava, aquela mãe continuou uma mulher disposta, e tão logo pode, voltou firme aos trabalhos em movimentos sociais das igrejas e instituições de amparo aos animais, sempre muito querida por todos, outro dia soube-se que ela arranjou um novo pretendente e vai se casar mas vai morar perto, no mesmo bairro, para sentir-se envolvida dos ares de seu lindo menino, que ria para as flores e ria para os barcos e ria para as estrelas, que agora riem com ele lá do céu...



Nina Araújo




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