
SADISTIC GARDENS OF FREEDOM
Data 22/08/2008 18:20:47 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| SADISTIC GARDENS OF FREEDOM
Não, não são benígnas as flores que nascem e medram naquele jardim. Não, definitivamente, não são provedoras da concórdia cosmopolita enfim. Ah, bem sei que, por trás de sua compleição garrida e inabalavel-mente protetora, existem sôfregas plantas devoradoras que que-rem, com seu néctar langoroso, degustar os jucundos palácios da translúcida credulidade nua, mas, para nós, tão indecifrável: inde-cifrável por estar envolta em dardejante, austera e indistinta bru-ma de quase pétreos lirismos cujas águas há poucos dão a dádiva de nelas navegarem tranqüilos, senhores supremos de seus subli-mes sortilégios e maravilhosos tesouros escondidos.
Quem saiba neles floresçam secretas masmorras da fotossíntese inversa, onde entrem constelações estelares de primeira grandeza; e saiam infinitas monções de vazio elegíaco da não-primavera.
Então, assim, reféns da contraluz do ânimo, são compelidas a ceder aos mortíferos encantos vilânicos da garbosa fauna carnívora, sempre escrava da fome ferina: fome de todos os plenilúnios, de todas as soberanias. Afinal, cativa da fome da indizível intendência suprema do mun-do, o qual nos alimenta e abriga como se estivesse a facultar, pela primeira vez, as tetas a um pobre nascituro.
Não, não são benígnas as flores que nascem e medram naquele jardim. São, isso sim, megalomaníacos irrefreáveis; rosas amantes da abiogênese, semeadas nos prados de Hiroshima e Nagasaqui; intangíveis aeronaves a sobrevoar, daninhas, os céus ensan-güentados do Iraque; câncer silente de uma nação por ele intermitemente fragilizada, inconsciente prisioneira da demência latente; vermes a colher os frutos da sua miríade de maldades. São, na verdade, porfim, os sádicos jardins da liberdade!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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