
O HOMEM VÃO
Data 17/08/2008 12:16:54 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| O HOMEM VÃO
Queria capturar, ainda que por um átimo, A luz cuja têmpera emana de uma águia entregue ao gozo do vôo. Sim, assim eu poderia abjurar aos meus escrúpulos Para seguir o rastro do orvalho á minha frente.
E Não ter de ponderar sobre o efeito das conseqüências duma opção Que escolhi E Não ter de encarar diariamente o semblante das boas escolhas Que não fiz E Não ter de procurar relevo na latitude do degenerante vácuo Que jaz cimentado no chão de mim.
Sim, eu queria que, ao ser levado pelo galope do orvalho, Quando chegássemos a seu destino ocioso, Eu pudesse encontrar o púlpito, as asas do Pégaso, o nobre Enlevo.
É, mas acontece que eu não sou a águia; Não capturo a sua luz: Na verdade, eu sou um vaga-lume opaco Que não consegue sobrevoar o dardejante mar etéreo de estrelas. Por isso sou o mais soez dos pós, o látego de mim, o que há de Mais Nulo Em si mesmo.
Queria capturar, ainda que por um átimo, A luz cuja têmpera emana de uma águia entregue ao gozo do vôo. Sim, assim eu poderia abjurar aos meus escrúpulos Para seguir o rastro do orvalho á minha frente. Mas não, as minhas mãos são asas que voam sobre o desgostoso Céu da sofreguidão. Sofreguidão que lacera mais do que navalha Quando expõe o cabal estigma das feridas: Sim, eu falo das vísceras do verdadeiro elixir da vida.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
|
|