
POETA OBSCURA
Data 17/08/2008 04:58:40 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| Preciso da trave, do cisco, da dor, da distância Contar histórias da meia-noite, me perder na imensidão do universo Preciso do sangue correndo em naus profanas Alimentando o que pretende ser vida eterna
Preciso não fugir de meu destino Viver da saudade de beijos molhando a boca até o infinito Saber desta saudade, lendo-a nos vazios De meus pensamentos amorfos
Preciso que descubra magias, desencante meus altares Livre-se das algemas, mesmo que de ouro E jogue-me no hades da mortalidade Me veja como sou, um ser que nunca nasceu E nunca morrerá porque não existe.
Sanguessuga do pensamento alheio, de corações perdidos Enlaço-os com pincéis que o universo me permitiu Com mãos de uma escuridão solitária e maldita Desmanchando futuros, borrando telas que não serão vistas Preciso que use seus olhos para ver além do horizonte E da imagem em sua frente Faça com eles o encantamento, transformando-os espelho Onde possa contemplar a mim mesma e fugir do que vejo Sem deixar sentir saudades ou culpas
Minha tumba é feita de mel, arrasta os incautos Meus olhos são feito fogo, queimam, não aquecem Minhas palavras são feito ferro, marcam Meu toque feito magia para encantar desencantados Minha poesia feito feitiço, obscura Sou inteira falsa, me falta espaço Caminhos e encontros trancados Não sei abrir porteiras para pradarias
É preciso ser alado, mágico, encantado É preciso não ser, para ser comigo Deixar de ser é um perigo Quando o mundo é um céu de seres Que até Deus quis por morada.
Mas, a poeta feiticeira nunca será profana Ama E, enquanto sonhos desvendam segredos da alma Farei poesias da trave que preenche minha concha As transformarei em pérolas De Madagascar, quem sabe, negras Como entrelinhas de meu vazio.
Enquanto sou capaz de dialogar com o universo Que fala de suas saudades, de ânsias e de beijos Em bocas, corpo inteiro, correndo a língua ansiosa em peles macias, Sou capaz de continuar balbuciando um abecedário de quimeras Em histórias, contos, cantos e poesias.
Lucy Nazaro
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