Mistake.

Data 03/08/2008 21:38:26 | Tópico: Contos

Mistake.

Olhei para seu rosto iluminado pela suave luz prateada da lua, sem deixar de me perguntar mais uma vez como alguém podia ser tão singular.

Ela possuía a pele suave e pálida, e feições delineadas com delicadeza, com riqueza de detalhes como se um refinado escultor as tivesse feito a mão. Suas sobrancelhas eram finas e escuras e encimavam olhos escuros e profundos, expressivos e espantosos. O rosto era emoldurado por longos cachos castanhos que contrastavam lindamente com os lábios rosados e pequenos, e o resultado... Bem, o resultado era a criatura mais sedutora que já encontrei em minhas andanças por todos os mundos.

A luz da lua lhe dava um ar misterioso que não lhe era característico. Ela esperava minha resposta. A resposta que seria derradeira. Definitiva.

Não tinha certeza se poderia responder naquele momento.

Ali estava a mulher que mais amei em todo este tempo. Antes e depois de tudo seria sempre ela. Ninguém mais que ela. Poderia haver outras, mas ninguém jamais seria alçada ao lugar sobre o qual ela sempre reinaria.

No entanto, eu não podia ir.

Não ainda.

Eles ainda precisam de mim. Mais do que ela.

- Não. Não meu amor, eu não posso. Não ainda. – ali estavam, as palavras que acabaram com tudo. E eu as disse. Dizer não foi tão difícil. Difícil é viver depois de ter dito isso.

Ela baixou lentamente seu rosto, e acenou afirmativamente com a cabeça. Acho que, no fundo, ela sempre soube. Sempre, sempre. Eu acabara de feri-la mortalmente e ela somente acenava com a cabeça como se já soubesse que eu faria isso.

Quando ergueu os olhos, eles brilhavam prateados, com o resultado da constatação da minha decisão. Era essa a minha palavra final, para a pessoa mais maravilhosa que já conheci. Mas jamais poderia fazê-la feliz se traísse minha honra. Eis a extensão do meu egoísmo e da minha vaidade. E tudo maquiado em heroísmo.

De repente dos olhos dela, desceram duas fileiras, prateadas pela luz da lua que entrava pela janela. Ergui minha mão para secar seus olhos e uma única lágrima dela caiu sobre as costas de minha mão direita.

Era uma única gota prateada.

Como orvalho.

Como prata.

Como a pura matéria dos sonhos, liquefeita.

Uma lágrima de anjo.


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