
Balada de um homem acompanhado
Data 08/03/2007 23:04:16 | Tópico: Poemas
| Era triste a alegria Que lhe enchia o âmago E lhe açoitava o estômago Com as farpas que comia À sucapa dos olhos gerais.
Envinagrado, o cheiro, Crescia sempre mais E envolvia-o por inteiro Bordando-o em ferida.
Não se sentia sozinho, Era dos que vivia a vida Comendo-a bocadinho a bocadinho Sem olhar a avisos, Sem se deter em cuidados Que lhe pudessem apertar a liberdade.
Era alegre a tristeza Que o acompanhava todos os dias E que ao livrá-lo de mais companhias Lhe ia cozendo a crueza, Natural à sua raça de rua.
Desmedida, era a imprecisão Dos passos da alma nua Que se lhe colava pela mão Amparando-lhe a queda desamparada No alcatrão negro e molhado.
No nascer e no viver Nunca ninguém o tinha ensinado Sobre a necessidade de se merecer, De querer mais do que o que se quer, De ser mais livre do que se é.
Valdevinoxis
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