
[Coimbra]
Data 26/07/2008 20:37:05 | Tópico: Poemas
| Coimbra,
dezembro de dois mil e quatro.
O inverno sussurra
nas árvores nuas
da alameda
que para breve está o seu regresso.
Há quem arrisque o traçar de pernas
numa esplanada.
Entre um café e um cigarro,
discute-se o tempo
que faz
e o que fez.
Algures,
a primeira página
de um jornal,
cumprindo o seu destino vegetal
de outono,
anuncia a queda
de uma árvore,
o vento forte,
mas só uma brisa
de lábios frios
nos cumprimenta.
E senta-se à mesa
e mete-se na conversa
o Alandroal
e o deus Endovélico.
E há um sol de mistério
que nos aquece
numa súbita visita.
E recordamos Olivença,
Camões e a sua tença.
E o Portugal
dos pequeninos
é este gélido vento
que regressa,
este destino,
em repartição pública,
da madeira
das caravelas quinhentistas
que Alexandre O’Neill
observou.
E dizia Fernando Pessoa
que era esta a cabeça da Europa.
E a metáfora,
sentada ao meu lado esquerdo,
suspira a amêndoa amarga,
desejando
de Alfred Jarry
o absinto.
E João, em Patmos,
e o seu Apocalipse.
E os segredos
dos manuscritos de Qumrân.
Tanta palavra gasta
num tampo de mesa
à beira poesia.
Xavier Zarco www.xavierzarco.no.sapo.pt www.euxz.blogspot.com www.xavierzarco.blogspot.com
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