FRAGMENTOS DE HIPOCRENE
Data 17/07/2008 21:48:12 | Tópico: Poemas
| 1.
esquece
a ikebana
são palavras
flores
mas aves
as fragrâncias
com que elevas
o poema
2.
despoja-te
do verbo
do verso
negregado
liberta-te
não sejas
negreiro
de ti mesmo
3.
larga
o hoplita
o que sorve
do péan
cada passo
resgatado
entre pó
e cinza
4.
sente
entre mãos
o sereno
pulsar
os acordes
sussurrantes
do coração
da água
5.
escuta
as entranhas
o ventre
de hélicon
o ressoar
eterno
dos cascos
de pégaso
6.
que o quérulo
verso
caia
saia
das veias
do cálamo
o escravo
resignado
7.
habita
o grito
a espada
de belerofonte
no corpo
de quimera
no dorso
de pégaso
8.
encanta-te
pelas ilécebras
que hipocrene
canta
quando
se derrama
na pele
das pedras
9.
sê multívago
nas palavras
erra
pelos seus corpos
navega
no seu verso
conquista
o seu reverso
10.
prova
de clio
o olhar
da águia
o coração
da árvore
no curso
da clepsidra
11.
aprende
de érato
o supremo
êmbolo
a comunhão
dos corpos
na surpresa
das sílabas
12.
colhe
dos rios
o fruto
de melpómene
e afaga
o seu hálito
nas asas
da tua voz
13.
o vento
nas ramagens
onde o olhar
vagueia
bailando
e sentindo
o corpo
de terpsícore
14.
quando a noite
descer
e inundar
o olhar
urânia
virá
iluminar-te
o espanto
15.
acerca-te
do riso
um pássaro
imitando
a luz
nos vitrais
na demanda
de tália
16.
há uma lira
num lírio
quando o campo
se descobre
nos acordes
da primavera
pelas mãos
de polímnia
17.
euterpe
rasga
esventra
o ventre
do estio
por uma folha
ao vento
de outono
18.
e a palavra
vai
na demanda
na construção
do poema
calíope
maior
que a vida
19.
rente
à boca
recolhe
os nove
instantes
a argamassa
com que se erguem
os poemas
20.
a água
regressa
a hipocrene
regressa
como ulisses
após provar
do mar
a própria voz
Xavier Zarco
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