
Deusa da minha paixão
Data 11/07/2008 14:14:32 | Tópico: Textos -> Amor
| As coisas tomam formas diferentes dependendo do ângulo em que são vistas. No meu ângulo, tempos atrás observando embasbacado uma escultura falante, viva, alegre, ligeira e inteligente, posta em um lugar poético e historicamente cultural, o elegante Café do Odeon. Ela, a escultura, a medida em que eu a observava fazia surgir em minha mente formas em revoluções sobrepostas, meio psicodélicas que passeavam pelo meu interior desarmando-me e imobilizando-me completamente.
Restava-me, ali, indefeso, continuar inebriado e imobilizado pela beleza dinâmica da deusa. Claro, o trato era, e acabou sendo cumprido, o de estudar português do Décio, prof. da Academia dos Concursos. Foi produtivo, e não poderia ser diferente. A eficiência dela é inigualável. Entrego-me confiante ao seu ritmo, certo de que ela sabe o que faz. Ainda não assimilei completamente o impacto da beleza que invade o meu interior. Esta beleza que embala as minhas noites e intrometida apodera-se da minha mente impondo uma nova arrumação, espanando com certa arrogância lembranças obsoletas que já deveriam ter saído de lá há muito tempo. E assim ela vai apoderando-se dos meus pensamentos.
“Meu Deus! Não me desampare nesta hora poética!” Talvez gritasse o salmista Davi, em seus passeios matinais pelos montes de sua inspiração. Não ouso orar como Davi, mas o sentimento talvez seja bem parecido. Ele era um homem sempre apaixonado, diria até meio exagerado a ponto de se apaixonar pela mulher de Urias, o coitado capitão e guerreiro de seu exército. Mas, com a mesma valentia com que enfrentava o inimigo também, quase que candidamente, tangia de forma magistral a sua velha harpa, elevando-se ao nível dos deuses poéticos…
“Meu Deus, traga-me de volta à terra dos homens mortais!” Oro agora desesperado querendo retornar do devaneio que a imagem da deusa me remeteu. Mas isto tudo foi ontem, somente por duas horas corridas que confirmaram as teorias de Einstein, sobre a relatividade do tempo. Como passou rápido, voando! Mas foram suficientes para presentearem-me com uma noite descansada e revigorante, depois de tocar a minha guitarra até meia-noite, claro, embalado pela imagem da deusa, que àquela hora já se apoderara completamente da minha decência e vontade.
Talvez ela ao ler isto assuste-se pela impetuosidade das palavras, mas digo-lhe: Leia somente, é tudo muito leve e respeitoso, sem planos ou esperança de qualquer conseqüência. É o fenômeno humano atuando em um homem que de repente depara-se diante de uma beleza poética que a deusa, talvez, nunca imaginara inspirar nos homens.
Aliás, ela nem sabe que é uma deusa.
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