
A GLÓRIA PANDÓRICA
Data 27/06/2008 12:09:29 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| A GLÓRIA PANDÓRICA
Um bigode austríaco, estando munido do poder da palavra, há muito tempo soerguera um povo [Um povo jazido no arquete da derrota. E, ao fazê-lo, acabou por transmudá-lo no maior promotor da refulgência da destruição, até aqui, na História. Hoje pareço ouvir a mesma voz emanada daquele bigode, como se fosse um eco fantasmagórico que, rompendo as várias barreiras dimensionais do além-túmulo, regressa ao nosso plano, conclamando todas as novas chagas abertas [Abertas pela dor causada por conta da opressão do mundo, a se irmanarem a ele, no pulsar do sentir do ódio, e assim aniquilar áquele que eles consideram o seu consensual tanto mais mais terrível verdugo: o verdugo aparentemente ametódico.
Não, não sei como dizê-lo, mas me engano. O mundo: o mundo é masoquista. Ele tão-só almeja abrir mais e mais feridas; depois anestesiá-las, embevecendo-as com a sua mais pura perspectiva: a partir daí, deleitá-las ao verem a beleza [A beleza da poética da podridão do ser... da intemperança... do arrivismo... da opulência... Do enriquecer!
Então aquela visão as incorpora a ponto de não saberem se aquilo é real ou quimera apológica ao cosmo esquizofrênico burguês, tão engrandecido pela TV.
Porém, residindo no reino das miasmas de lixo, elas sabem ser o êxtase da riqueza um caminho inacessível. Por isso, afinal, resolvem ingressar no viral universo e nele, deixar-se apoderar: tomar a forma do vírus-berro. Portanto dominando o medo. Muito além disso, impondo-o até mesmo! Desta maneira, alimentando o mundo e ele as alimentando ao deixar, deixar degustar as inúmeras delícias textuais do seu monumental Monumental corpo enlevantemente dantesco, pérfido. Bruno]
No entanto, a alegria de pobre dura pouco. O mundo é voraz. O mundo quer muito mais! O mundo se cansa do mesmo sabor. O mundo quer experimentar: Experimentar novas ganâncias... ânsias... Amores [Percorrer a estrada da vida em busca de novos horizontes... Provar novos e surpreendentes SA--- BO--- RES! Logo após deixando a dissolução destes pobres despojos como o estigma essencial, fatal dos seus laços. Assim, um dia chaga... outro dia vírus-berro. Doravante, um corpo sem vida. A escorrer da boca o amargor [Inexoravelmente o amargor do sangue de quem conscientemente se deixou ser traí- do. De quem, tolhido pela ausência, se deixou ferrar.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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