INTERSTÍCIO AMIGO

Data 21/06/2008 11:49:50 | Tópico: Poemas -> Sociais

INTERSTÍCIO AMIGO



Numa fenda de seis metros por um metro de altura,
Reside um jovem filho de ébano,
Que escolhera como casa
O gélido e calefático aconchego da rua.


Cansado de ser o prato principal
Do cardápio das alcoólicas chibatadas paternas
E não sendo sua prolífica germinadora
A inexpugnável fortaleza materna,
Fugira para ver se encontrava o horizonte
Onde repousa o Graal de sua paz, a serena aurora
Dulcificadora,
Que julga perpétua, imorredoura!


No entanto, ele não sabe, não enxerga
Que quem batia nele não era seu pai;
Que quem lhe negava esteio não era sua mãe, não.
Na verdade, era a mão da Pandora da metal exclusão que o batia;
Era a mão da Pandora da metal exclusão que lhe recusava moradia.


Ah, mas olha lá o coitado:
Com medo de viver em albergues,
Acha que morar num dos fétidos postigos vários de Porto Alegre
É encontrar o caminho da eterna liberdade
Cuja maioria de nós tanto persegue.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA


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