
Um pouco sobre Mim.
Data 20/06/2008 14:09:17 | Tópico: Poemas
| UM POUCO SOBRE MIM
Para que fiquem sabendo Um pouco mais sobre min, Pôr achar que é necessário, Direi tim-tim pôr tim-tim O que precisam saber, Eu nada vou esconder Do princípio até o fim.
Meu nome é Francisco Egídio, Aires e campos os sobrenomes, De uma família composta De uma mulher e oito homens Dos quais nasci como quinto E orgulhoso me sinto Dos meus pais e dos seus nomes.
Meu pai, Chico Aires Lôbo, Nasceu aí, como nós, Os seus pais também nasceram Assim como seus avós, Que eram em Crato residentes, E de todos benquerentes Das cidades aos cafundós.
Dos Ferreira de Meneses Foi meu velho bisavô, Ele era o”Pai Aristides” Chegou a ser senador, Seu irmão, José Ferreira, Com “meu Padrim”fez carreira, E daí foi fundador.
O meu bisavô paterno Era do Crato também, Era José Maria Lôbo” e “Meu Padrim”lhe quis bem, ele foi três vezes a Roma, carregando grande soma que deu ao Papa pôr bem.
Foi junto com Padre Cícero Quando este fez a viagem, Pôr ser tão religioso E provido de coragem Fundou dezoito capítulos De irmandades, tão bonitos Congregando a romeiragem.
Meu avô foi da polícia, Quando "Meu Padrim" morava, Viveu noventa e seis anos, E a min muito contava, Sobre coisas do passado Do tempo que era soldado, José Aires se chamava.
Minha mãe, pernambucana, Lá em Triunfo nasceu, Filha do “velho Minú” Que ai viveu e morreu, Homem probo e respeitado, Morreu pobre mas honrado, Orgulha-me ser neto seu.
Era um obreiro maçom E foi um dos que fundaram A loja do juazeiro, E muito estes o apoiaram Na sua extrema velhice, Era pobre como eu disse, Mas seus amigos o amavam.
Ladislau de Arruda Campos, Era assim que se chamava, Apesar de bem criança Lembro-me do que falava, No seu bom filosofar , Na vida tento aplicar As coisas que ele explicava.
Foi no quadro de São Vicente “onde hoje é o memorial” Nasci em quarenta e cinco Num dia de carnaval, Era dia dois de março Não causei nenhum percalço Nasci de parto normal.
Me aparou “Mãe Guidinha” Que era uma boa parteira Esposa do legendário Coronel Antônio Pereira Que ai todos conhecem Cujas estórias parecem Um festival de besteiras.
Bem poucos meses eu tinha Quando meus pais se mudaram Para Rua São José ( 576,) uma casa que alugaram Eu vivi até dez anos, Chegaram meus desenganos, Pois as coisas pioraram.
Aos cinco de maio fiz A primeira comunhão, E naquele mesmo ano Fomos para a rua São João,(601) Mas pouco tempo moramos De lá logo nos mudamos, Não houve mais condição.
Mas minha infância foi boa, Cacei muito passarinho, Fugia pr’á tomar banho Com os amigos ,ou sozinho Armar fojo pr’á preá, E pescar com landuá Lá no rio salgadinho.
Fiz compras na feira nova Pôr muito tempo seguido Pôr ser um menino esperto, Era pôr todos querido As verdureiras me amavam E muitas coisas me davam, E eu com o “trocado” escondido
O dinheiro que sobrava, Duzentos ou quinhentos réis, Tomava garapa azeda Misturada com pastéis As vezes me distraia E passava quase meio dia Ouvindo lerem “cordéis”
Tinha a banca de filhoses Da mulher do velho Matos, Que era antigo carcereiro. Gostavam de min de fato Filhoses sempre me davam Carinhosos me chamavam “Menino do olho de gato.”
No açougue do ratinho Era onde carne eu comprava Gostava muito de min, E comigo conversava Como se eu fosse um adulto Era um homem pouco culto Mas como um pai o amava.
(A muitos anos atrás, Eu fui com um tio meu Visitar o meu velho amigo, E ele me reconheceu, Senti-me gratificado, Com outros velhos no mercado O mesmo fato aconteceu.)
Neste tempo o Juazeiro Não tinha iluminação, O meu pai levava a gente Para ver frei Damião , No quadro dos Franciscanos, Minha mãe e todos os manos E a petromax na mão.
Foi tempo da construção Da bela igreja que agora Existe, e é cartão postal, Mas não existia outrora, No sermão ele pedia E varias bacias enchia De dinheiro em uma hora.
Para construírem o forro Fizeram subscrição, Meu pai entrou nesta lista, E nossos nomes estão Gravados em algum lugar Não sei se posso encontrar Mas lembro da posição.
No ano cinqüenta e oito, Algo ruim aconteceu E a vida do meu pai De repente enegreceu, Ele adotou a cachaça, E sobre nós a desgraça De repente se abateu.
Para Canindé seguiu E lá montou a oficina E assim iniciou sua vida peregrina de lá nunca mais voltou e para nós decretou uma mudança de sina.
Eu só tinha treze anos Mas enfrentei o batente, Pois nosso pai ensinara A profissão para a gente Eu tive que trabalhar Para ajudar sustentar Nossos irmãos inocentes.
De polidor trabalhei Mais de um ano seguido, Entregando a minha mãe O dinheiro recebido, Andava com roupas herdadas Muitas vezes remendadas E com fundilhos puídos.
Lá no Alfeu Guimarães, No Expedito seu irmão, Na aliança de ouro Com o Anísio e o Dão, No Luiz Izidio, e além De mim, lá estava também O Juarez, meu irmão.
Completei catorze anos, Sentia-me angustiado, Não pude mais estudar, E do meu pai separado, Eu que o amava tanto Vivia com desencanto, Num desalento danado.
Resolvi secretamente Atrás do meu pai Seguir, Não disse nada a ninguém Prá não tentarem impedir, Do dinheiro que ganhava Uma parte separava No intuito de fugir.
Assim passou-se algum tempo E eu comprei uma mala, Daquelas de pau, na feira Mandei um amigo guardá-la, E muito tempo passou Até que o dia chegou Em que enfim fui buscá-la.
Eu juntara cem mil réis Trabalhando com afinco, Com os dedos em carne viva De polir anel e brinco, Preparei minha bagagem E fui comprar a passagem Que custou noventa e cinco.
Fiquei com cinco mil réis E mais a cara e a coragem Mas na hora de fugir Eu senti uma friagem E para minha mãe falei, Atrás de pai eu irei, Ninguém me impede a viagem.
Sai de casa sozinho A minha mala levando Naquela noite tristonha Que continuo lembrando, Os ventos palhas sopravam E os meus passos ecoavam Conforme eu seguia andando.
As ruas estavam desertas E a madrugada era fria, Meu peito também gelava Da angústia que eu sentia, Vivalma não encontrava, E quanto mais eu andava Mais a solidão crescia......
Vai fazer quarenta anos Que estas coisas aconteceram Muitas coisas se passaram, Muitos fatos sucederam, E apesar de tão distantes, As lembranças são constantes, Pois em min jamais morreram. Sou um homem abençoado, Pois onze filhos eu gerei, Dois destes o bom DEUS levou, Mas os outros dez criei, Meu caçula tem dezoito, Nenhum tem vício ou é afoito, Vinte e seis netos ganhei. +2 bisnetos
Sinto-me realizado, Embora sem Ter dinheiro, (embora já o tenha tido.) Vivo sempre prazenteiro E se DEUS me conceder, Eu voltarei para viver E morrer no juazeiro.
Talvez até haja lá Quem ainda lembre de min, E mesmo cinqüenta anos Não é tanto tempo assim, Só o porvir é distante, O passado é um instante Que se foi mas não tem fim.
Tem um amigo de infância, Alma pura e altaneira Filho do velho Aureliano, É José Gondim pereira, Era muito estudioso, Um amigo valoroso, Lembro dele a vida inteira.
Ouvi dizer que hoje é médico, (DEUS queira que assim seja) Se for deve ser dos bons, Peço a DEUS que o proteja, Se o for eali morar, Suplico a quem o encontrar Abraça-lo, caso o veja.
DEUS vos abençoe, amigos, E a todos que te cercarem, E que se tornem mais férteis As terras onde pisarem, E que sejam abençoados Os rios, serras e lavrados Cujos ares respirarem.
Que para vós jamais falte, Todos os bens salutares, Que a fortuna acompanhe Aos vossos familiares, Que vosso estro floreça E mais a mais em vós cresça O Dom que tens de poetares.
Que vossas vidas se dilatem, E que vossos bisnetos venham Compor odes e baladas, Para vós, e que eles tenham, A verve poética que tens Que a eles passes estes bens, E vossa fama retenham.
São estas bênçãos que quero, Que levem sempre contigo, E que meu padrinho Cícero Proteja-vos do perigo, Rezando por vosso progresso, Acompanho vosso sucesso, Mestre Egídio,vosso amigo.
Cordel- Mestre Egidio
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