
RAVINA MARMORIAL
Data 17/06/2008 12:05:22 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| RAVINA MARMORIAL
A fragrância de vianda putrefada Parece que o tecido cândido do barranco urbano estampa, Pois tão-somente o que os olfatos sentem É a rijeza, a aspereza, a acrimônia Da centelha do perpétuo breu lancinativo Exalar o amargo inane sangüineo aroma.
Eu, imerso em oceanos ou pênsil em píncaros Das montanhas onde fluem os lençóis freáticos dos meus pensamentos, Tento mensurar a dor que emana Desta tétrica plaga em chagas aberta, pradaria de brados e dramas; E não consigo fazê-lo: Porque dolências como esta Não se medem apenas Com gestos, reflexões, palavras de panegíricos, apologias, epicédios, Lamentos; Porque, na verdade, dolências como esta, Em que a indomável ressonância é soçobrada e expira Ao chegar ao castelo do vilipêndio, São infinitas hemorragias do amor, Que acaba por convergir ao estendal da raiva: Onde cintila imponente apenas o ardente rancor; E então, testemunhamos uma atroz alquimia: O altruísmo comutado em gêiseres da vilania.
Afinal o ledo e jocoso vale de congostas obliquas Lobregamente em nascedouro de girassóis desvanecidos se transmuda: Pois, em compactas e cilindricamente ovais câmaras de fogo, Jaz o mármore do crepúsculo imisericordioso.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
|
|