
PAÍS-CIRCO
Data 31/05/2008 11:12:53 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Querem que galguemos os degraus do alheamento Até chegar ao cume do não sentir mais: Não sentirmos mais a nós mesmos.
Então, para que nós o alcancemos, Nos colocam em jaulas onde residem leões modernos Cuja mordida não fere, não sangra, Não nos conduz á mortuária câmara. Porém, esta provoca o ressoar de risos eternos Que, como uma chuva ácida, dissolvem todos os tipos de metal: Sim, até o mais indissoluto tipo: qual? O daquele que compõe E reveste o espírito de luta que, de nós, faz a sua morada Supostamente mais perene, segura E onipotentemente impávida.
Sei que cada vez mais arguta... Sei que, cada vez mais soturna, Ela penetra corrosiva na mente Oclusa em infinitos icebergs de esquizofrênicas realidades lúdicas E de maledicência absoluta. Ah, mas hemos de vos debelar, intangíveis e entorpecedoras Fortalezas insuplantáveis de sofisticadas cuiudas!
Com efeito, a verdade é que, á medida que escalamos A montanha hilariante, nos aproximamos do ponto Em que não se sabe se jazemos na masmorra de um sonho Ou vivemos a realidade. Sim, falo, desta maneira, porque tamanha é a grandeza Da homogeneidade que os irmana e os norteia. Sim, como dói não saber se o que vivemos É cruel realidade ou dantesco sonho. Ah, como dói não saber se nascemos numa Pátria, Num País-Circo, no majestoso Cosmo altaneiro Ou se apenas putrefamos diariamente num Circo-Mundo! Afinal, dói não saber se somos ainda força realizadora Ou fantasmas inconscientes de seu próprio falecimento A andar por conhecidas ruas.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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