
Bailarina foge da caixa de música
Data 26/05/2008 21:00:18 | Tópico: Textos
| Sou assim, vou por aí com as latas de atum vazias no saco guardadas, atrás de mim ainda seguem coladas as tuas pegadas por um caminho que não conheces. O meu vestido de bailarina rasgou, tu trepaste-o com as botas de trolha e eu não consegui fugir mais às tuas mãos. Percorrem o meu corpo agora em vaidade quieta e calada, a pele está encurralada e não me esgoto de gritos e fugas. No quarto o escuro de terraços mudos, bagaços seguem-se aos cafés que se tomam desenfreadamente no café ao lado. Tu olhas e eu olho mas o balanço desajeitado das pestanas fecha os olhos dos que não querem ver, eu não vejo, tu não vês e vós? Páro ao fundo da rua com as mãos nos bolsos do corpo agora nu, a chuva serpenteia-se nos caracóis do meu cabelo, o sorriso esconde-se como um cão doente na casota fechada. Rompi os ecos da voz que em silêncio se altera, brindo então aos céus que me esperam com os braços abertos. A minha morte morre-me todos os dias na boca cerrada.
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