
O Homem que Ninguém Libertou - Parte I - (A Rotina)
Data 21/04/2025 16:06:54 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Ele acorda às 6h. Sempre às 6h. Não por vontade, mas por um eco: O som das engrenagens do mundo Que exigem pontualidade na servidão. Veste-se com as cores neutras da aceitação. Cinza, preto, azul-marinho. As cores do invisível respeitável. A gravata é um nó no pescoço Que ninguém vê como corda. Ele caminha pelas calçadas Como quem desliza por trilhos. Já não sabe o que é caminhar por escolha. Cumprimenta com um sorriso treinado, Entona a voz com um otimismo morto. Aprendeu que verdades demais assustam. No trabalho, Digita memórias que não são suas, Ideias que cabem em planilhas, E desejos que foram arquivados Na gaveta de "impróprio". O chefe o chama de “exemplo”. Ele sente náusea, mas agradece. Nos raros momentos de silêncio, Ouve um murmúrio dentro do peito. Algo antigo. Algo feroz. Mas logo vem a tela, a notificação, O mantra do consumo E o som some. À noite, deita-se com o corpo exausto E a alma adormecida. Não sonha. Os sonhos foram domados na infância, Vacinados contra risco, Inoculados com prudência. Ninguém o prende, Mas ele nunca foi livre. E o mais trágico: Acha que liberdade é isso mesmo. (Continua...) Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
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