a morte do coveiro

Data 08/04/2025 20:28:25 | Tópico: Poemas

"A Morte do Coveiro" (1895-1900), de Carlos Schwabe

à primeira madrugada
vai-se o corpo fica a alma
esse sopro que é um nada
engana-se a dor com a calma
e o ocaso surpreende
quem o conhece e quem sente
que finda mas que porfia
como seta que defronte
do alvo foge e se desvia
na reta curva de um rio
porque a chama um desafio
que tem nome de horizonte

por que razão não podemos
reconhecer pelo menos
o rosto antigo de amantes
estranhos no seu segredo
se antes em cantos serenos
se antecipava o degredo
de duas castas bacantes
na tua tez na minha mão
com aquela carnação
agora terna e vazia
da eterna visão do fim
dos outros ao fim do dia

sob a cortina dos ramos
na neve entre sepulturas
descobre-se um novo plano
que revela num sorriso
um clarão que é timoneiro
entre o fosso e as alturas
dizendo a morte ao coveiro
espero que tu me abraces
num juízo em desatino
que inferno e paraíso
são afinal duas faces
falsas do mesmo destino



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