Canção do Acerto de Contas

Data 11/03/2025 09:02:44 | Tópico: Poemas -> Reflexão

Precoce, julguei-me poeta,
mas nada entendia o ofício:
nenhum repertório ou métrica
— ritmo? Nem rastro no início.

Sem forma, sem qualquer fundo,
bendizendo o que é simplório:
árvore estéril de tudo,
morta raiz em território.

Quis muito a tantos louvar,
pretensioso, sem bem saber;
quis noutra época cantar,
mas era um grito a se perder.

E eram tantos ruídos
— roucos, doídos, falazes —
que ao fim feriam ouvidos,
cansando períodos e frases.

Mil sermões de um moço chato,
não vivido, embebecido,
num tom confuso e insensato,
— chamava o simples vencido.

Mas eis que o tempo sussurra,
no sopro veloz do caminho:
escuta o vento que dança,
sente o calor do teu ninho.

Dada atenção ao real,
aprendida toda a canção:
tema nenhum será banal
quando pulsar no coração.


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