
Toda Quinta-Feira, o Louco
Data 06/03/2025 08:57:06 | Tópico: Poemas
| Garrafa d'água na mão, o vidro pesa menos que o tempo. Deslizo entre os que sussurram ao nada, os que lançam pedras às próprias sombras, como quem joga migalhas ao destino.
Aquele que recita em calçadas vazias carrega um sol gasto no bolso e um poema no frio. As mãos falam antes da boca, os olhos viajam antes dos passos. O louco—não, o poeta lança palavras em poças d’água, espera que virem estrelas antes de secarem.
Amo olhar, olhar dentro do olhar que não ama, nada amando tudo, tudo despedaçado na borda do delírio.
Há beleza nos que não pertencem. Na linha trêmula do queixo, um verso incompleto. No descompasso do riso, um segredo inalcançável. E eu, sempre ali, toda quinta-feira, sentada no vórtice entre o real e o impossível, lucidez e vento, deixando que me veja sem saber que é visto.
E se um dia ele parasse? Se pousasse os olhos no vazio e nada dissesse? Talvez o mundo inteiro desmoronasse num silêncio maior que qualquer poema.
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