Há palavras que não se encerram

Data 11/02/2025 15:00:58 | Tópico: Prosas Poéticas

Há palavras que não se encerram – serpentinas de significados, labirintos sem fim. O desencontro é uma delas, uma longa linha escrita nas entrelinhas do tempo. Uma trama de silêncios, olhares que se desenlaçam e seguem em direções opostas, ainda que carreguem no peito a memória de um toque incompleto.

Desencontro é o instante suspenso entre duas bocas que quase se alcançam. É o perfume deixado no ar depois de um adeus hesitante, o calor residual que fica nas mãos quando a outra já se foi. Não há palavra que o contemple por inteiro, pois ele não cabe no agora – é um eco, uma sombra, um vestígio que o tempo arrasta como quem saboreia a dor com lentidão.

O desejo também mora no desencontro. Ele arde naquilo que não foi consumado. É a pele que não sentiu o fogo e, por isso mesmo, permanece em brasa. Como o mar que deseja o horizonte, mas nunca o toca, amando-o com uma devoção distante.

Ah, e há uma perversidade poética nisso tudo: desencontrar-se é também manter a chama do encontro viva. É amar na ausência, no intervalo onde as almas se encontram mais nítidas porque nada as distrai. Uma palavra interminável, sim, mas que desliza suave como um sussurro entre os lábios de quem nunca se esqueceu.


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