
O Vazio que Ressoa
Data 30/01/2025 12:01:23 | Tópico: Poemas
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A culpa é do vazio. Um sino cavo na garganta do tempo. Nos porões e nas escotilhas, o silêncio devora tudo. Se Deus é um álibi, dissolve-se agora no ar.
Atreve-te a tocar os nervos do proibido. Cose o sentir como quem molda tempestades. O que os teus dedos tocam, também te refaz.
Os porões abrem-se lentamente. O vazio escapa, um hálito morno sobre a nuca. A escotilha revela mares internos, onde a ausência dança incendiada.
O que ruía, germina. O tempo curva-se sobre si, um animal sem forma, sem rosto, sem pressa de ser compreendido. A alma multiplica-se, não como ruína, mas como semente, broto no ventre do silêncio.
Os poemas despertam. Cada verso desprende-se da página Como um pássaro cego, tentando tocar o sol na garganta. As palavras ganham pele. A pele, cicatrizes douradas. O coração, enterrado nos ossos da palavra, lateja irregular, feroz.
E tu, leitor, sentes isso? A matéria dissolve-se. Um líquido escorre entre os dedos. O vazio torna-se cântico. As páginas, portais. O espaço abre-se. O som dobra-se. O tempo, suspenso, prestes a tombar.
E a tua voz, antes tão humana, estica-se até ao infinito, num tom que não cabe no tempo.
Ao deitar-te sobre o poema, sentes o peso das estrelas. O coração, translúcido, revela-se: um altar onde o tempo se ajoelha e — por um instante — tudo silencia.
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