
Dez Anos
Data 25/01/2025 01:13:55 | Tópico: Poemas
| Há dez anos a sorte, no tear do tempo, venceu a morte Para calar-me o lamento em meu mais solitário momento N’um vale silencioso onde se quedam mudas as palavras Onde o canto dos mortos convida, a invadir os ouvidos O que teria me salvo da sanha dos vermes, longe do céu Do salmo augurado pelo profeta da vinda de dias vazios Enredando rezas de música tinta de ufania e desespero Onde revi todos temores escondidos detrás das portas Com os braços prostrados ao longo de meu corpo, ouvi Os sentidos navegarem à deriva, revolvem sem controle Sem contar com a farsante da esperança, entreguei-me A imaginar o que iriam me escrever ao rodapé da tumba Mas ela surgiu, num lampejo com seus olhos cristalinos Silente de pecados, para interromper a minha despedida Tomou meu coração nas mãos e fez escondê-lo do anjo Como jamais poderei me olvidar essa cena mais sublime Fecundando meu delírio, deu a luz a meu maior poema E no que seria o último cortejo, uma via de tormentos Fez do barro, desprendido da terra, tornar-me humano Não o demônio recriado, mas um mestre exilado do céu
Deu-me nestes traços, versos com olhos de crepúsculo Um novo ar, uma mente penetrante que ousa escrever Deu-me dilúvios de lágrimas, dores incontáveis e visões E mesmo continuando mortal, a cada fim um recomeço
|
|