
Espelho: Observação à Margem
Data 17/01/2025 09:10:45 | Tópico: Poemas
| No jogo, prefiro as bordas onduladas, onde o reflexo vacila entre o real e o inventado, onde o movimento dança no limiar do nada e o vazio sussurra gestos invisíveis.
Observar não é estar parado — é mergulhar no interstício das ondas, um momento em que me desdobro, não apenas como sombra, mas como brisa, decifrando ecos que se recusam a ser som. Aqui, o silêncio não é ausência, é um labirinto que desenha a minha voz.
Ao tentar moldar-me, o espelho rasga-se. Cores que nunca sonhei sangram margens. A luz tropeça e vira sombra; os contornos dissolvem-se em significados. E tudo bem — porque nem toda travessia me chama.
Fico onde as peças são invisíveis. Sou o tabuleiro líquido, as linhas que não se deixam traçar. Sou quem escuta o murmúrio do espelho, quem sente as palavras que não foram ditas, quem compreende que o reflexo mais puro é aquele que se desfaz na leveza do toque.
Aqui estou, onde o vidro se parte sem ruído, mas com memória. Não no reflexo, mas na margem, onde as asas do olhar repousam. Porque às vezes, é na curva do espaço que o movimento inteiro se revela.
|
|