
(DES)ESPERANÇA
Data 19/12/2024 02:53:50 | Tópico: Poemas
| O beco, o casebre Quem se importou Com sua dor, sua febre? Desgraça, o pai infartou...
Sempre foi assim Desde que nasci A mãe já alertava Em silêncio chorava
Água na bica faltava Na mesa, faltava o pão Cheio, só o pulmão Do ar que respirava
Doía a barriga... A fome castiga!
O lixo revirado
Um pão mofado Lágrimas de desgosto Escorrem do meu rosto
Tentava ver o futuro Por um furo no muro Feito por uma bala não doce Ah, como eu queria que fosse! Mas é feita de metal E amargamente letal
Então fiz o meu corre Nesse beco fedido Onde “os menor” morre Como escudo, ferido
Respirando ar de guerra Ódio, o coração dilacera Quando a vida – ela ferra O beijo da morte acelera
Atenção: Mais um corpo no chão! Partiu cedo outro menino Sem paz no seu destino
Destino... De quem não viveu? Dum simples menino Que sofreu e morreu?
A vida não é justa Mas quem teme a morte Um dia se frustra Voe, menino sem sorte
Nesse mundo do cão Que se retroalimenta Dos sonhos e ilusão Dum ’alma que aguenta
Aguenta o açoite da mazela A sobrevivência na favela Na tentativa de felicidade Privaram-me da liberdade!
Espaço limitado Cor de cimento Choro calado Só há sofrimento
Há barulho interior Pior que da tranca Sinto-me inferior Sem a sorte branca
Vim duma viela qualquer... Azarado com malmequer!
Encontro-me distante De mim e do instante Dum tempo não vivido Sem voz, só, esquecido
Minh’alma apagou Angústia me restou Do azar dum esquema Corpo preso no sistema
Como mudar o que se é Sem olhares julgadores? Como manter-se de pé Num covil de opositores?
Todo tempo gasto pra refletir Tormento da mente ao sentir Cada quadro da minha vida Quando penso e revisito Aquela criança sem guarida Num barraco de conflito
Tantos erros e atos Os berros, os fatos Ausência de amor
Meus gritos de dor Só medo e rancor Descontentamento
Tornei-me menino levado Xingado, amaldiçoado Puro ressentimento
Queria ter visão de futuro Mas ao olhar, ponte não há Só vejo muro, muro, muro Dão-me um título de burro E mais murro, murro, murro
Cansado e perdido Suplico: - Ó, Deus! Atenda meu pedido
Quero aprender a ler E não ser apreendido Estou farto de sofrer E não ser compreendido
Além da tempestade A crença pela metade Pra superar tamanho estrago Com gota d’esperança, eu vago.
Fabiano Ribeiro.
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