
Conspirações do Trono Desencantado
Data 18/11/2024 14:33:24 | Tópico: Poemas
| Ah, sabia, sim, que tinhas uma morada improvável, um degrau de árvore como trono de rei desencantado, onde as folhas te cochicham conspirações de insetos e, a cada noite, ensaias monólogos para o musgo. Vi-te a inventar mundos a partir do que outros abandonaram, pálpebras invisíveis, claro — a última moda no país dos cegos! Ali, entre um arrastar de móveis imaginários e perfumes vazios com cheiro de ontem, plantaste a tua dor como uma plantinha decorativa, regada com as lágrimas de três mil poetas em fim de carreira. E sim, há rumores que Deus te bate à porta à procura de um trocado ou uma conversa fiada; o que não sabes é que ele deixou o infinito à deriva para viver das sobras da tua imaginação folclórica. Nesse teu quintal peculiar, as facas florescem em abril, e os garfos pendem como frutos da árvore do absurdo. Ouvi dizer que na última visão foste o protagonista, apresentado com honras e fanfarras imaginárias. E então, foste visto a dançar uma valsa fúnebre com memórias mamíferas, enquanto os mortos te aplaudem como se estivesses a um passo de um prémio póstumo. Mas olha, para onde vais, o vazio é mobília de luxo, e decoradores de interiores ficam à porta. A tua viagem é um tour de força por dentro de ti, uma excursão surreal com guias que não sabem voltar. Talvez, no final, só reste o branco — claro, o branco absoluto, com direito a um último suspiro, mas agora em grande estilo: como uma piada interna do universo a teu respeito.
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