Olhar Cego nº 35

Data 01/10/2024 17:31:05 | Tópico: Poemas

Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.

Depois da última linha, tudo voltará a ser mar...

Após decifrar o significado dos aplausos,
[a saudação precoce dos futuros regressos].

Reuni todas as ilusões,
E nenhuma delas
Era verdadeiramente minha...
Nem as imagens refletidas,
Nem os versos mais altos,
Nem as presenças ouvidas.

Nunca fui, nunca chegarei a ser...
Nunca poderia ser aquela menina
Com olhos das três estações
E da liberdade na voz,
Um milhão de vezes conquistada.

Sei bem o que fiz,
Arrombei o camarim da imaginação
Para esconder as dores, os amores da sua pele.

Vesti as barbas do Pai Natal,
O avental da criada,
As rugas maduras da senhora mais árvore.

Calcei a coragem do corredor,
Peguei no pincel do pintor
Para desenhar suas falas.

Adotei a rua
Do mendigo mais pobre.

Roubei as assinaturas mais belas
E torci suas linhas
Para disfarçar os nomes.

Estiquei as ondas
Para boiar nelas
As suas letras
Mais ditosas.

No final,
Dei a cara
Para chorar
Suas lágrimas...

Ela sou eu,
Eu,
Nunca poderia ser ela.



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