APENAS MAIS UMA PRIMAVERA
Data 28/09/2024 13:14:39 | Tópico: Prosas Poéticas
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Ah, me prevaleço de que se foi distante a minha aurora, apesar; sinto quão privilegiado sou de estar contigo, vida... Tão bom lembrar-me das belas e continuadas histórias que me contavas às tardes na estação das flores, hoje tão diferentes, mas que me inspiram cantá-las em versos e prosas, inflorescências manifestadas naqueles tempos vividos... Percebia nos mínimos sinais da finda e fria época antecedente o rebrotar das tímidas violetas de lapela nas jardineiras, idem o viço das gramíneas e o despontar célere dos brotos nos bambuzais... Arte bela o renascer, presença da natureza ensaiando florações... Emocionante avistar a olho nu os botões esculpindo pétalas, esculturas vivas surgindo nos campos, várzeas e vales, aos sopros amenos em olências advindas dos roseirais... Sem ranhetar, aguardo ano após ano pacientemente esse momento mágico e grandioso da estação sempre com aquele olhar menino, assistindo o surgimento exuberante dos gladíolos, cravos, e jasmins, rodeados pelas belas, singelas e tenras margaridas brancas numa esfuziante saudação em tela setembrina, incomensuravelmente bela...
Nalguns arbustos, o vigor reflorestado, nos galhos das amoreiras; casulos se contorcem à vida sem ais, bailados frenéticos que culminará numa explosão de belos seres tropicais em voos inimagináveis, variados movimentos, danças e cores... É primavera; aguça os sentidos do poeta notívago que a saúda com uma nova melodia; não mais chora, não mais sonambula, cessam as lágrimas e o pranto, abdica-se das tristezas e canta... Alegria revigorada num manto colorido pelo sol nas tardes mornas e douradas. Cessam as gélidas hibernações noturnas nos botequins, o ajuntamento das gentes de almas aquecidas apenas pelos conhaques nas longas noites boêmias... Antes, as bocas e os corações em histeria, de súbito, novo astral trazido pelo advento do sorrir, do amar, do se dar, e das tantas palavras que puderem ser ditas para expressar... Pena que em apenas mais uma primavera, tempo pouco para se dizer o tanto que ainda haverá de poesia.
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