Olhar Cego (32ª Poesia de um Canalha)

Data 28/09/2024 09:20:01 | Tópico: Poemas

A mão treme no calor dum espinhoso palavreado
Ignora o leitor e ignora o autor, ignora a tua voz
Cegou-se embrulhada pelas metáforas do sorriso
Que matreiro se fecha em si num gozo declarado
Feito gente culta a deslizar na garganta sem nós
E a mão que ainda treme enlouqueceu sem juízo

E tu, poeta que te dizes poeta da vilã melancolia
E eu, que me descrevo sábio da noite para o dia
E nós, ali nascidos labirinto de vida qu'ela perdia
Verbo a rimar sem rima, de cor a preto e branco
Declamador barato de rua em rua, o saltimbanco
Que te canto, que da palavra perdida te arranco

Escrevo-te aqui esta vida que escreves sem vida
Faço-me rascunho de ti e daí página amarrotada
Grito-te, não me ouves, leio-te em silêncio curto
És tão poeta quanto eu e aquela miséria perdida
Que tão docemente chamas poema à tua amada
Rasga-te e rasga-me contigo no ler que vi morto


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