
Trovador
Data 21/09/2024 11:06:06 | Tópico: Poemas
| Percebo que pouco a pouco A vida que se me faz fugidia Desperta meu desejo louco De pensar na morte todo dia.
Não trago mais aquele fogo Aceso dentro do peito. A pira Funerária envolve meu corpo Na mais vívida melancolia.
Passo dias e noites recordando Minha querida e pura puerícia. Nisso vou sentindo correndo o pranto Nascente nos olhos sem alegria.
Aparece minha outra metade A parte que mais aprecio e amo Digo-lhe o tamanho do desengano, Do tanto que sentirei dela saudade.
Feito o pegureiro sem a rota correta Beijo os lábios daquela boca veludosa Assisto a rubra face ficando cor-de-rosa Sendo assim, pego do papel e da caneta
E vou contando, cantando, a nossa história Do tempo que se foi e vai nos devorando, Dos nossos dias tristes e os dias de glória Beijo-lhe a boca novamente, chorando.
Nauta na partida, náufrago sem porto Sou o eterno amante, eterno peregrino Assisto partindo dentro de mim, o menino Vejo meu corpo jaz numa louça, morto.
O pranto nostálgico banha o rosto meu Machucado e ferido fica o pobre coração Olho os úmidos olhos agigantados teus Que vertem mil lágrimas por mim, em vão.
Busco repouso e amparo no teu regaço Descanso a tristeza estampada na fronte Feito um pássaro preso em visgo, em laço Fito, já longínquo, o meu mais Belo Horizonte.
Desfazem-se elos. Dissipam-se tempestades. Aquieta-se, sossegado, o senhor do oceano. Sacodem as asas um casal de lindos anjos Que ninguém jamais saberá as suas idades.
No futuro, atrás do muro, um vagido de dor Que geme e se contorce sobre a lápide infeliz Que, com a voz embargada, soluçando, diz: Adeus! Adeus! Morreu meu maior... Trovador!
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