
Flora
Data 03/08/2024 14:24:51 | Tópico: Poemas
| Na árvore que eu estou, O valor dos frutos depende do galho em que ele brotou. Os frutos dos galhos que estão Beijando o chão, não valem um tostão. Já os frutos dos galhos de cima Têm o devido valor em todos os climas. Os frutos de baixo, os animais podem mordê-los, Podem apedrejar, espetar, apertá-los em novelos.
Quem se importa com o esmagamento dos frutos de baixo? Azar deles que nasceram em desprotegido cacho. Quem se importa se eles morrerem por falta de irrigação Ou por pedradas disparadas pela tradição? – Mas se alguém ferir um fruto que está num galho elevado? – Isso será veementemente condenado. Não se aceita que alguém meta a mão Nos frutos que estão em galhos distantes do chão.
Atacar, ferir, apedrejar, jogar no riacho... Só nos frutos dos galhos de baixo. – Mas são frutos da mesma árvore! – Quem quer saber desse mármore. O que importa é a posição Que o galho se encontra. O resto não se leva em conta, Não passa de disfarce do alçapão.
Os frutos de baixo verdes ou maduros Podem ser espetados, nem precisa ser no escuro. O tempo todo frutas verdes são espetadas, O leite desce manchando a morada. Mas quem se importa. Tapa-se o nariz. Fecham-se as portas.
– Se fosse um fruto de um galho de cima? – Mudaria o clima: O tempo nublava, O trovão estrondava, O vento agitava, O dia anoitecia sem palavra. – Mas os frutos vêm da mesma árvore, do mesmo tronco, da mesma terra! – Quem quer saber, cabeça de cabo de guerra!
Convenção é convenção, E não tem conversa não. Toda a sociedade verde deu sinal, Implicitamente, assinou o contrato social Determinando que só têm importância os frutos dos galhos de cima. – Os galhos de baixo também fazem parte dessa sociedade sem ímã! – Quem quer saber, Zabelê! Você não viu, Mas o transporte que você procura já partiu.
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