
Zélia
Data 31/07/2024 19:36:35 | Tópico: Poemas
| O escândalo de manhã afligia os cidadãos. A rapariga morrera durante a noite de fome. Um cidadão comentou que ninguém morria de fome. Devia ser droga. Ela não regulava da cabeça. Parece que a câmara levava-a mas regressava sempre. E não procurava um canto. Cobria-se com uma manta e adormecia atravessada no passeio, de modo que as pessoas de manhã tinham de a contornar. Uma vergonha, é o que era. Havia de se fazer alguma coisa destes miseráveis. Não faltam soluções, moralizava o dono do restaurante. A carrinha nunca mais vem, nervoso, o dono da papelaria, preocupado com a venda das raspadinhas e dos jornais. Chamava-se Zélia, ouviu-se. Coitada da desgraçada. Um ruído de motor e uma travagem de alguém com pressa. Finalmente, nunca mais vinham, comentou um cidadão, mais aliviado.
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