
Carta (O barquinho vai)
Data 09/07/2024 01:47:31 | Tópico: Poemas
| Tenho nas mãos tua carta (e a surpresa que a tenhas escrito) Olho-a tristemente e lembro muitas histórias do meu passado Sei que não vês, que não sentes a emoção, nunca a sentistes Devo confessar que não a abri, tampouco não prometo abrir Espero estejas bem na tua ausência que nunca fora só física Sei que o inverno por fim chegou até ti e assim te faz sofrer Mesmo não desejando teu mal, todavia, isso não me importa Como naqueles dias importava, demais até, cada suspiro teu Ah a paixão, essa mania dos tolos e dos poetas (e sou ambos) Olho para trás e observo as dunas que se elevaram entre nós Desérticas, intransponíveis quais as tuas frívolas promessas Eivadas de palavras polidas na forma, quão vãs no conteúdo É hora de olvidar as aventuras, os sorrisos de cada chegada Assim como foram ao oblívio, as lágrimas de tantas partidas O que afinal poderias ter escrito que eu já não tenha te dito E tenhas solenemente ignorado ou, quando não, contrariado Não vou negar que há memórias inenarravelmente doloridas Aquelas de nós qual amantes, de nossos corpos extenuados Mas as sugestões dos amigos, te cegaram mudando os fatos Para vê-los qual quisestes: da pior forma que se o possa ver Eis que à carta que me destinas, cabe outro destino melhor Seguir a corrente que a chuva da tarde formou no meio fio Em esmerada dobradura à qual aceno o adeus que não deste
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