
Ele escreve direito por linhas tortas
Data 13/05/2008 21:12:23 | Tópico: Contos
| Acordou! Agitou os braços no ar. Levantou-se! Os chinelos não estavam no sitio mas nem reparou. Caminhou até à casa-de-banho.
Ele chorava agarrado a nada com os chinelos ensanguentados, ele gemia, ele sofria, ele doía e saía de si para se ver no espelho. Ele não era! Ele nada. Ele tudo. Ele nem mais nem menos. Sofrido e dorido continuava abraçado a nada com as mãos quietas, mudas, paradas, seladas em gestos que nunca se davam.
Lavou a cara, respirou fundo, lavou os dentes, as olheiras não se conseguiam disfarçar. Deu dois passos e tropeçou nela.
Não tinha reparado que ela se tinha levantado já, não tinha reparado em nada, imbecil, inútil, pensava em si e no quanto não a amava enquanto chorava agarrado a nada com os chinelos ensaguentados. Ele ali não era, ele nada, ele tudo, ele nem mais nem menos e ele ficava ali assim ficava sozinho chorava com os chinelos ensaguentados.
Ela levantou-se de uma noite não dormida, caminhou decidida até à casa de banho, sem o gosto da vida na boca, tomou uma caixa de tranquilizantes. Ficou tonta, agarrou-se à cortina enquanto caía, a cortina rasgou, o marido não ouviu e ela ficou agarrada ao seu corpo enquanto uma nódoa de sangue começava a formar-se debaixo da cabeça.
Deitou-se! Agitou os braços no ar. Adormeceu! Os chinelos repousavam aos pés da cama. Ela caminhou até à casa de banho.
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