
O ocaso do herói
Data 14/08/2023 14:00:31 | Tópico: Homenagens
| Julguei um dia te admirar, tão íntegro, além das etiquetas Mas tais enganos o tempo revela a quem desejar conhecer O brilho nômade que te ilumina o íntimo, a brasa consome Abres a passagem tão só a certos escolhidos tormentosos Que transitam em antros de luxúria sombria e reverências Criaturas melancólicas que só vejo agora que te conheço Enquanto persegues os fantasmas vazios da coluna social Povoada do orgulho que grassa qual faz a hera nos muros Assim te manifestas no idioma da nefasta paixão e veneno O poder te consumiu em êxtase, o sopro de real grandeza Agora não tocas mais minh’alma que vive muito além de ti As portas do inferno se abriram para tua solene chegada Verás nos saguões onde se cruzam a chuva e a frustração Os aduladores trazendo maços de flores belas mas podres Ao passo que com pompa exibem sua opulenta inutilidade Fazendo ingênuos pássaros multicores grasnarem furiosos Hoje enfim posso ouvir os rumores sufocados de antanho Coros de candelabros lascivos que não iluminam as trevas Putrefatos portais de mármore ligados de face ao abismo Pomares tão solenes todos cobertos de flores carnívoras Mas nem lamento, pois, a ilusão da virtude já foi um guia E se hoje sou quem sou, devo ao que nunca viestes a ser
Muitos de nós teve um mestre que achava um exemplo a seguir. O tempo, porém, mostrou-o um ser vazio, fútil e pretensioso. Minha homenagem a um mentor que se revelou assim. Que a terra lhe seja leve.
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