
Memória
Data 12/07/2023 23:54:32 | Tópico: Poemas
| Como quando era menina Penteia-me, devagarinho, com a tua mão Para eu adormecer, ensina-me uma oração Fala-me de gente com feitiço que corria fado Dos tempos frios e difíceis do teu passado Dos filhos que carregaste no regaço Do caminho percorrido passo a passo Do pão azedo que o diabo amassou E das lágrimas que o teu rosto enrugado secou Enquanto falas, espreito para dentro dos teus olhos clarinhos E, desfaço-te a longa trança de cabelos branquinhos Dizes então, só para me experimentar, Que não queres que te volte a abraçar Porque cheiras a velhice e a bafio !... E eu beijo-te muito enquanto tu ris e eu rio Então, chamas-me baixinho, à tua maneira, Cachopa mimalha, netinha tripeira. Ai como sabe bem recordar, A tua voz, o teu sorriso, o teu olhar. Tão curto foi o meu tempo de criança, Tão cedo carreguei a pesada herança Da saudade que a minha avó me deixou... O meu tempo d'envelhecer chegou veloz E, nos lábios dos meus netos, oiço agora a minha própria voz Lourdes Dos Anjos
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